segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Réu Confesso

Texto arquivado em 2009.


Tudo bem. Tudo bem. Eu sou réu confesso.


Eu, réu, confesso!

Com a confissão estampada na cara, nos olhos na pele e no meu coração desritimado que agora me entrega.

Eu confesso e declaro, em voz, olhares e modos que não tomei, que meu coração agora tem dona. Podem dizer que invadiram, arrombaram, tomaram a força e eu vou dizer a todos. Frígidos!

Eu não entreguei. Eu escancarei as portas pra que ela entrasse, pois eu sei que a dona em sua nova morada zela por ele como eu zelo por ela. Estou aqui por vontade própria e permanecerei porque quem permanece em meu peito é a dona dos meus anseios, sorrisos e desejos.

Que venham testemunhas, espectadores e infelizes júris mortais me perguntarem se eu faria tudo de novo. Eu direi: "Mesmo que Crhonos ainda viesse contra mim, eu passaria por tudo novamente. Que me dessem como castigo a eternidade sem ela, eu pactuaria com o fim dos tempos.

Porque quando tudo findasse, ela estenderia a mão e dali pra frente eu seria feliz...


mas muito feliz...


como sou agora.... Obrigado.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ventura

E lá existe explicação para paixão??!
Não, não existe mesmo!


É fato e é lógico que não há lógica alguma quando o sentimento vem. Não se limite e advogue pela sua própria pessoa que você é intocável. Se pensas assim é porque é mais vulnerável ainda e tens medo de qualquer sentimento, assim como tens medo da pessoa que você se transforma quando a tem.

Calma, ninguém é lúcido o bastante para ser como Zeus, para se conter a um sentimento e não há anticorpos que lhe imunize. Você é um reles mortal.

Haverá de um dia você se apaixonar e todos os sintomas vão aparecer.

Nada anormal acordar de madrugada, até porque ela será uma boa companhia. Passará o dia tentando explicar o quanto você está apaixonado e na hora dizer tudo aquilo que decorou e que disse com convicção diante do espelho, vai entalar tudo e se sair vai ser uma confusão como a torre de babel, porque discurso não acompanha a disritmia da paixão.
E quando você a encontrar que façam armas químicas, genocídios, descobertas medicinais, que aconteçam eclipse, catástrofes, dilúvios, mas não importa, porque nessa hora, em seu relógio particular, tudo pára e somente um órgão acelera.

É assim, não faça justificativas. É melhor você se render. A paixão vai estar dentro de você de tal forma que você nem lembrará.

Não tente a esconder atrás de um sorriso que seus amigos irão perceber, irão lhe dar conselhos, uns levianos outros não, mas não importa. Eles podem ter pequenas feridas do passado transformadas em grandes fardos. Você tentará desenvolver um raciocínio, mas será breve demais, pois o sentimento é egoísta e quer sua mente em total domínio.
Acordará polivalente buscando uma solução e dormirá mais uma vez demente. Tentará guardar todos os sentimentos em um souvenir, mas eles emanciparão quando você a encontrar. E mais! Cometerá um leve suicídio ao deitar e renascerá ao amanhecer. Ao ler poemas chegará à conclusão de que os poetas já sabiam da sua história ou que então freqüentavam um oráculo onde previram a sua paixão.

Pela última vez, amigo de conselho, renda-se e faça valer. Não há legislação ou cláusula. Ao contrário do que dizem, não é demérito apaixonar. A paixão é assim, simples e constante. Ventura.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Matando heróis

- Alim? Alim??

Era domingo, mais ou menos 23h30 quando um sussurro que vinha da janela atravessou o quarto. Embriagado de sono, pus-me de pé e saí caminhando entre as pilhas de velhos jornais e composições espalhadas pelo chão. Antes de abrir a janela, sem saber se tal fato era sonho ou não, retruquei para a voz que me chamava com certa intimidade.

- Quem é?

- Não lembra mais mim? Sou eu, seu amigo de infância.

Não entendia, não assimilava e não pensava também. Ora bolas! Era domingo, havia de trabalhar logo mais e uma voz vinha da janela do meu apartamento, no quinto andar?!

- Se não falar o nome não abro!

- Mas... fui seu melhor amigo... e você não lembra da minha voz?

E realmente não lembrava mesmo, mas já estava convicto que tal cena passada era um sonho e logo lembrei que podia ali morrer e na segunda de manhã renascer ao acordar. Abri!

- Posso entrar? - Indagou a visita.

Meu Deus... realmente era sim meu amigo de infância, mas que pensei em nunca mais encontra-lo.

- Superman. O que faz aqui?

- Preciso conversar, posso entrar?

È claro que eu o deixei entrar, mas não me alegrava mais a sua visita como antigamente. Era menos que mais do mesmo receber essa peça de infância. Entrou derivando sobre o quarto escuro. Havia dez anos que não via mais.

- Pensei que nunca mais ia te ver.

- É, eu andei ausente. Pra falar a verdade, não vim com a intenção de te ver. Fui escalado no sonho do menino que mora no 301 e resolvi passar por aqui.

- Escalado? Mas você não trabalha mais para a Liga da Justiça?

- Acabou.

- Cadê todos? Mulher Maravilha, Aranha? E a Marvel?

- Faliu, acabou. Hoje, com essa crise não tive outra escolha a não ser entrar em uma empresa de sonhos. Recruta heróis para participar de sonhos e quando não há demanda, animo festas infantis.

- Mas e os outros?

- Aranha, morreu. Foi visitar seu primo em uma lavoura no interior. Por causa das toxinas pulverizadas na plantação, teve complicações e não resistiu. Mulher Maravilha está famosa. Fechou um contrato milionário com uma gravadora e virou dançarina. Você deve conhecê-la. Cansou de salvar o mundo e por causa da negação da família virou funkeira. Seu codinome agora é Mulher Melancia e por fim estou aqui. Parece-me que você não ficou feliz?

E não tinha ficado mesmo. Nada haver com mágoa, por ele não ter aparecido quando o pneu do carro furou na autopista, quando o ladrão entrou na minha casa ou no falecimento de meu pai. Mas é que não era a mesma coisa, tinha criado novos heróis e gostava mais daqueles que carregavam em seu dorso um violão e quando dedilhavam, os sons que saiam, valiam mais que qualquer força praticada pela velha guarda.
O contexto atual também não lhe era favorável, as cores de sua roupa já estavam desbotadas e seu país que tanto infelicitou a cor do ébano, agora era presidido pela melanina, um mestiço imponente. Nada conciliador com o sonho americano e talvez fosse realidade mesmo. Em sua terra, não precisavam mais dele e sim de homens nem tão fortes, talvez obesos e carecas, mas intangíveis economicamente. Enfim, era muita ausência vivida para ser apagada em um encontro repentino.

-As coisas não são como antes. Eu mudei.

-Mas você fez jornalismo?

- Sim, por sua influência.

Amargurava na profissão. Pós-formação ainda não havia conseguido nenhum emprego. Pautei tantas atividades por causa de um herói e agora ele estava ali querendo um ouvido, como um divã, o homem desabafando e eu abafando.

Coitado, era um herói sem teto, ou melhor, sem sonhos. De certo que tentei ajudá-lo, mas ser um humano não era nada fácil pra quem foi herói. Então arrumei um colchão revestido por lençóis brancos e ele dormiu ao acalanto de meus novos heróis. Quando acordei, não havia mais herói e sim uma cama vazia.
Aprontei-me e comecei a vasculhar tranqueiras do passado antes que escurecesse novamente, até encontrar exemplares antigos do peito de aço. Apanhei uma lixeira, fui até a varanda e juntei todos os resquícios que sobrara daquela amizade e que se ainda havia, tinha que fazer um último pedido daquele histórico amigo. No suplício da fogueira foram queimando todas as páginas dos álbuns e fantasias de um tempo que devia ser apagado. Apanhei o máximo de de kriptonita e ladrilhei a minha janela. Assim nunca mais o veria, assim morria o último herói, assim morreu Superman.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Pablo

Setembro é época de ventos frios e fortes, relembro. Foi por isso que corri até a janela ver o folguedo no céu. Mas os pés sujos do petiz me chamaram mais atenção. Era Pablo, que tinha acabado de mudar para a casa da vizinha. Havia em suas mãos algumas varas de marmelo. Ele passou pela cozinha, pegou a faca ensebada de gordura, deixando o sujo de terra no chão, sentou debaixo do pé de manga com as pernas entreabertas fazendo devoção aos seus instrumentos. Faca, plástico, vareta, linha e Pimpolho, seu escudeiro fiel e remanescente de sua última casa, este cultivava seu dono lambendo a canela suja de suco de limão.O que Pablo não sabia e nenhuma outra criança quer saber é que marmelo é mal, tinha que ter medo, não haveria nenhum tutelo se a dona descobrisse a atitude inocente do menino. As varas já tinham atividade e das mais cruéis, instrumento para coibir desobediência. Era da dona Azaléia, a terceira mãe de Pablo. A primeira e de sangue, tinha mais doze filhos, dois fugiram, seis entregues à avó paterna, quatro para os diferentes pais e por fim Pablo, que ela deixou com sua mãe, dona Morgana, a avó de Pablo que tinha falecido há dois meses. Cada qual em seu canto e em cada canto Pablo tinha o mesmo canto, choroso, angustiado, doloroso, acanhado.Criança não desdenha sorriso, claro, Pablo tinha soltado vários, mas ainda amargurava a última perda. Não queria mais perder o próximo, o escudeiro e o vento de setembro. Foi afinando e engordurando a vara até arfar. Dona Azaléia que dava comida aos porcos e se igualava a eles, voltou para a cozinha e retornou com um laço de rabo de boi, sem falar, piscar, pensar duas vezes passou pela canela fina do menino a pequena corda e o arrastou até o pé de goiaba. Pensava ele que era uma nova brincadeira, uma metáfora ao papagaio. Ela pegou mais uma vara de marmelo e recuou ao braço até as costas voltando com zunido endereçado às pernas do menino. Seis, sete, catorze chibatadas. Pablo se por hora gritou, já não tinha mais força. Tentou desamarrar, mas a mão não obedecia, trêmulo ficou atado, o vento já era doloroso e ardido, o suco de limão mais amargo e do próximo queria era distância. O cão lambia, mas o sangue não estancava. Pablo conheceu Deus, descobriu que a vara não levantava vôo de ninguém e não era por atividade única gerar o marmelo. Morre a criança e nasce o burro.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Seu José e a primavera

E quantas primaveras José contou?
Diz ele que desde quando nasceu. Se lembra de todas, todas! Do leite vital de 1974 a descomedida de 2007. Mais que a data o ar e a espera pela estação, José embra com saudades das mulheres que floresceram amores. A calorenta e trepadeira Alamanda, a mediana jardineira Azulzinha, Gérbera, Ipomáia, Manacá, até com as irmãs relvas se prostituiu. As mais memoráveis foram as que floresceram amores.
Rosa! ah... a Rosa, sua primeira paixão. Ela o mata de saudades, como flor era a mais fogosa do seu jardim e como a flor a mulher também era mais velha, no entanto enxuta como uma virgem. Virgem porque as rosas são cultivadas em mosteiros milenares. Rege a história que pelo menos um frade é especialista em botânica, somente para zelo das delas. È claro que nos mosteiros monges estudam e louvam o canto gregoriano. Já José louvava a Rosa proseando versos à caipira acompanhado da viola e seus estudos, bem, estes eram as curvas da bela moça. Já dizia Shakespeare em Romeu e Julieta. “Aquilo que chamamos rosa, com outro nome seria igualmente doce". E a Rosa de José era realmente assim, meiga. Para ele as pétalas eram as graças de sua mulher, de vestido rodado, flutuando ao dançar nas festas do Cadar. Seu sorriso era a anunciação de mais um desabrochar das rosas. Mas Rosa também tinha um espinho de amargura, era depressiva pobrezinha. Os pais morreram e ela caiu em desolação. Adornou o velório de sua família e morreu logo depois. Seu José tem chagas até hoje deixadas por ela e não quer as fechem-se.
Margarida. Ah... a Margarida. Uma mulher ímpar, não porque única e sim por ser a quinta das dez irmãs.
Margarida-Funcionária, nasceu para a labuta; Amarela, doente coitada, viveu na cama; Àrvore, queria estudar botânica; Transval, sempre via o nascer e o pôr-do- sol; Margarida Silvestre, não queria sair da terra onde nascera; Menor, era a caçula da família e a de Seu José; Margaridão, segundo o vilarejo, sapatão; Margaridinha, a caçula da família e Margarida-rasteira, a responsável pelo fim do romance. Seduziu José e a oficial viu tudo. Como desculpa ele disse que a terra é fraca e não aguentou.
A Gazânia, uma mulher temperamental demais, as melhores e piores noites foram com ela. Ficava branca, vermelha, amarela e alaranjada. Hora nervosa outras manhosa, triste outras alegre. Louca, porém maravilhosa. Gazânia não era de ficar parada, de dois em dois anos, queria novidade e foi embora deixando seu José desolado. Até que um dia conheceu Clívia... ah a Clívia! Segundo José teria se casado com ela, mas a moça precisava de muita atenção. Tropeiro de coração passava dias fora de casa viajando. Seu José entende-se como o sol, conheceu várias outras mulheres nas estações do ano. Perdoôu algumas vezes, mas cansou e foi-se embora antes de chegar outra flor, amor, vive sem pudor e com muito, mas muito calor com sua prima Vera.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O amor segundo segundos



Amar é um sentimento único, mor, que nenhum outro tenha alcançado tal nível.
Mor porque raiva, ódio, alegria e todo o
cosmo de sentimentos que nos rodeiam é originário do amor.
Tão virtuoso quanto a costela de Adão. Incontrolável, sagaz.
È a matemática incalculável, dialeto não decifrável.
Guerra entre razão e emoção, gregos e troianos.
Transborda e esvazia o circunstancial. Rasgo do mundo para o angelical.
Ah, o amor...
É o único e depois o único novamente, conseguinte.
Ócio da mente, exercício voraz do coração.
O casamento da paixão com a adoração.
O tempo esguio, o furto perdoado das palavras do poeta.
Ah, o amor...
È o abstrato concreto e o concreto abstrato.
Estar em companhia com pássaros.
A dor consentida e querida.
Olhar para o céu de nuvens desfiguradas e ver o rosto da pessoa amada.
Ah, o amor...
O desespero de mãos dadas com a calmaria.
O lápis reverenciando a folha com poesias.
A magia das danças dos corpos, o dinamismo do olhar.
João e Maria.
Ah, o amor!
Ausência das palavras, pois os olhos falam.
O ateu crendo em Deus.
Reprimir os pensamentos e jogar os dados
È abnegação à felicidade e a vida plena cedida à devoção do nosso bem querer.
Ah, o Amor!
È mendigar o sorriso do próximo.
A noite perdida tornar-se ganha.
Todo intelecto induzido ao nada.
O poema sempre incompleto esperando o verso amado.
Ah... meu Amor!

Mãe, não tampe a garrafa e afie a faca!



Mãe, não tampe a garrafa,
o intelecto, o espírito, a tenção ou o intuito, não corte as minhas asas!
Enalteça a rebeldia que nasce em meus cabelos, deixe ela emancipar meus desejos.
Energia diante do perigo, dos primeiros rugidos e quando eles saírem, não se desespere.
Espere, me aguce diante do medo.
Quando eu for uma das facas mais afiadas,
me direcione para o lugar certo.
Me leve a crer, a aceitar ou decidir,
com destreza de quem facultou minha vida até agora.
Espere me rebelar, contra o eu mesmo.
Trocar a casca, a cara e ser uma oposição forte a quem fui.
Mas toque em meus cabelos e olhe em meus olhos sempre.
A leveza do teu olhar é o peso da minha consciência.
Que seja o vento que move este moinho,
Vento de bons presságios
Mas quando eu lhe chamar, venha!
Fátima!
Leoa da América!